quinta-feira, 3 de julho de 2014

Liberdade x Planos


Pra escutar durante a leitura / To listen while reading

José González - Stay Alive





Não que eu queira colocar um contra o outro. Não, não é bem isso. Não me entenda mal, mas as vezes temos que escolher entre a liberdade e os planos. Não é uma escolha fácil, principalmente para alguém que está acostumado a fazer planos de curto, médio e longo prazo. 

"Estou organizando minha vida", pensava eu. Mal sabia que ao passo em que eu "fechava" os roteiros diários de cada mochilão, pesquisando e anotando no papel minuciosamente onde deveria estar e em qual horário, eu estava fechando os olhos para as paisagens e as possibilidades do caminho. Pois bem, no meu último mochilão, instigada pela vontade de desapegar, e sem tempo nem mesmo para pensar, dormir ou comer, não tive como planejar meus roteiros de viagem. Fui forçada pelas circunstancias a aceitar as surpresas e os imprevistos do caminho. 

O primeiro sentimento que surge quando não conseguimos fazer nossos tão amados(e algumas vezes obsessivos) planos é o medo. O medo de se perder, de perder tempo, de não aproveitar os momentos, de perder as melhores paisagens e de não conhecer as mais incríveis pessoas. Mal sabia eu que os planos poderiam, em certas ocasiões, serem exatamente o que te impedem de fazer tudo isso. 

Decidida a enfrentar esse medo, me presenteei  com um dia de liberdade em cada cidade que fui. Ao chegar em cada local, ao invés de pesquisar sobre o que tinha para ver e fazer, eu simplesmente caminhava horas e horas sem ter destino certo. Ou melhor, o destino era ditado pela minha intuição e pés. Eu cheguei a caminhar de 9h da manhã às 9h da noite, sem saber onde estava indo. Eu só andava e observava. Observava as pessoas, a cidade, os detalhes, a vida. Os cheiros eram únicos, as sensações eram indescritíveis. Ver o medo se dissipar e dar lugar ao sentimento de liberdade e entrega àquele momento, àquele local, àquele caminho, àquela vida, era como se finalmente eu começasse a enxergar não só o mundo, mas a mim mesma. E muitas vezes eu me perdi, para me encontrar. 

Permitir-se dialogar diretamente com o caminho, confiando que a estrada, e não apenas o mapa, vai lhe mostrar as melhores paisagens, é confiar que uma força maior direciona o nosso caminhar por essa vida, nos mostrando que, se passarmos a viagem toda com os olhos pregados no papel dos planos e dos roteiros, iremos perder as belezas e as oportunidades que o caminho nos reserva. 




Not that I want to put one against the other. No, not exactly. Don't get me wrong, but sometimes we have to choose between freedom and plans. It's not an easy choice, especially for someone who is used to making plans for short, medium and long term. 

"I'm organizing my life", I thought. I didn't know that while I "closed" the daily itineraries of each backpack, researching and writing down on paper in detail where I should be and at what time, I was closing my eyes to the landscapes and possibilities of the way. Well, on my last backpacking, instigated by the desire to let go, and because no time even to think, sleep or eat, I do not like to plan my travel itineraries. I was forced by circumstances to accept the surprises and unexpected on the path. 

The first feeling that comes when we can not make our beloved (and sometimes obsessive) plans is fear. The fear of getting lost, wasting time, not to enjoy the moments, losing the best scenery and not meet incredible people. I didn't know the plans could, on occasion, be exactly what prevents you from doing all this. Determined to fight with this fear, I presented myself with a day of freedom in every city I went. Upon arriving at each place, rather than researching what had to see and do, I just walked for hours without having the right destination. Or rather, fate was dictated by my intuition and feet. 

I got to walk 9 am to 9 pm, not knowing where he was going. I just walked and looked. Watched the people, the city, details, life. The smells were unique, the sensations were indescribable. See the fear dissipate and give way to the feeling of freedom and surrender to that moment, that place, to that path, that life, it was as if I finally began to see not only the world, but to myself. And many times I lost myself to find me. 

Allow yourself to dialogue directly with the path, trusting that the road, not just the map, will show you the best landscapes. Trust that there is a major force who directs our journey through this life, showing us that if we spend the whole trip with our eyes fixed on paper plans and roadmaps, we will lose the beauty and opportunities that the road holds.


segunda-feira, 30 de junho de 2014

Desapegar

Pra escutar durante a leitura / To listen while reading

Iron And Wine - Upward Over The Mountain




No meu último mochilão, viajei sozinha. 
2 Semanas. 
1 país. 
2 províncias. 
5 cidades. 
1 Larissa. 
3 mochilas e muitas dores nas costas. 
Aprendi da forma mais "pesada" possível que preciso desapegar de algumas coisas. Desapegar não só das 15 blusas e 5 calças que eu achava que iria usar. Desapegar não só dos 3 livros e das 2 palavras-cruzadas que achava que ia ler e fazer. Desapegar não só do computador, tablet, celular e milhões de aparelhos eletrônicos que basicamente possuem as mesmas funções e que eu insisto em levar ao mesmo tempo para todos os lugares. Não. Não só isso.  Aprendi que preciso desapegar de muito mais. 

Minha mochila anda muito pesada, cheia de sentimentos, pensamentos e planos que não preciso ou que não irei usar. Me agarro a eles por insegurança, por não confiar no caminho e achar que vou precisar deles um dia, mesmo não precisando deles agora. 

Tenho tanto amor pela vida, pelo mundo, pelos meus, que se pudesse carregava tudo e todos dentro da mochila. Mas, quando caminhei sozinha e tive que parar de 2 em 2 quarteirões pois minhas costas e pernas gritavam desesperadas por descanso, percebi que isso era impossível. Não consigo, e mais importante, não posso, levar o mundo nas minhas costas. Nossas costas não foram feitas para carregar tudo, mas para carregar apenas o necessário para cada viagem. E, se somente nós conhecemos o roteiro e o caminho, somente nós saberemos o que é necessário levar dentro da mochila. 

As dores nas costas me ensinaram que não preciso de tanta roupa se as que tenho são suficientes para me aquecer, não preciso de tantos livros se tenho que dividir o meu olhar  entre as palavras e as paisagens, não preciso de tantas conexões eletrônicas se existem tantas outras mais interessantes para se fazer off-line. Desapegar do que estamos acostumados. Desapegar do que achamos que sabemos. Desapegar do que achamos que somos. Pois só assim estaremos abrindo espaço na nossa mochila para os novos aprendizados do caminho.




On my last backpacking, I traveled alone. 
2 Weeks. 
1 country. 
2 provinces. 
5 cities. 
1 Larissa. 
3 backpacks and many back pain. 
I learned by the "hard" way possible that I need let go of some things. Let go not only the 15 t-shirts and 5 pants that I thought I would use. Let go not only the 3 books and 2 crosswords that I thought I was going to read and do. Let go not only the  computer, tablet, mobile and many electronics that It have basically the same functions and I insist on taking at the same time to everywhere. No. Not only that. I learned that I need to let go more things. 

My backpack goes heavy, full of feelings, thoughts and plans that I don't need or I won't use. I cling to them because of my insecurity, because I don't trust in the way and I always think that I'll need them one day, even if I don't need them now. 

I have so much love for life, for the world, for my people, that I would like to load everything and everyone inside of my backpack. But when I walked alone and had to stop many times, because my back and legs screamed desperate for rest, I realized that this is not possible. I can't, and more importantly, I shouldn't, to lead the world on my back. Our backs were not made to carry everything, but what we need to each trip. And, if only you know the script and the way that you will travel, only you can know what is necessary to take into the backpack. 

My back pain taught me that I don't need so many clothes if I that one that Ihave are enough to warm me, I do not need so many books if I have to split "my look" between words and landscapes, that I don't need so many electronic connections if there are many other more interesting to do offline. Let go of what we are accustomed. Let go of what we think we know. Let go of what we think we are. Because only that will be opening space to new learning that we can get in the path.  


Larissa R. Bezerra
30/06/2014