Pra escutar durante a leitura / To listen while reading
Não que eu queira colocar um contra o outro. Não, não é bem
isso. Não me entenda mal, mas as vezes temos que escolher entre a liberdade e os
planos. Não é uma escolha fácil, principalmente para alguém que está acostumado
a fazer planos de curto, médio e longo prazo.
"Estou organizando minha
vida", pensava eu. Mal sabia que ao passo em que eu "fechava" os
roteiros diários de cada mochilão, pesquisando e anotando no papel minuciosamente
onde deveria estar e em qual horário, eu estava fechando os olhos para as
paisagens e as possibilidades do caminho. Pois bem, no meu último mochilão,
instigada pela vontade de desapegar, e sem tempo nem mesmo para pensar, dormir
ou comer, não tive como planejar meus roteiros de viagem. Fui forçada pelas
circunstancias a aceitar as surpresas e os imprevistos do caminho.
O primeiro
sentimento que surge quando não conseguimos fazer nossos tão amados(e algumas
vezes obsessivos) planos é o medo. O medo de se perder, de perder tempo, de não
aproveitar os momentos, de perder as melhores paisagens e de não conhecer as
mais incríveis pessoas. Mal sabia eu que os planos poderiam, em certas ocasiões,
serem exatamente o que te impedem de fazer tudo isso.
Decidida a enfrentar esse
medo, me presenteei com um dia de
liberdade em cada cidade que fui. Ao chegar em cada local, ao invés de
pesquisar sobre o que tinha para ver e fazer, eu simplesmente caminhava horas e
horas sem ter destino certo. Ou melhor, o destino era ditado pela minha
intuição e pés. Eu cheguei a caminhar de 9h da manhã às 9h da noite, sem saber
onde estava indo. Eu só andava e observava. Observava as pessoas, a cidade, os
detalhes, a vida. Os cheiros eram únicos, as sensações eram indescritíveis. Ver
o medo se dissipar e dar lugar ao sentimento de liberdade e entrega àquele
momento, àquele local, àquele caminho, àquela vida, era como se finalmente eu começasse
a enxergar não só o mundo, mas a mim mesma. E muitas vezes eu me perdi, para me
encontrar.
Permitir-se dialogar diretamente com o caminho, confiando que a
estrada, e não apenas o mapa, vai lhe mostrar as melhores paisagens, é confiar
que uma força maior direciona o nosso caminhar por essa vida, nos mostrando que,
se passarmos a viagem toda com os olhos pregados no papel dos planos e dos
roteiros, iremos perder as belezas e as oportunidades que o caminho nos
reserva.
Not that I want to put one against the other. No, not
exactly. Don't get me wrong, but sometimes we have to choose between freedom
and plans. It's not an easy choice, especially for someone who is used to
making plans for short, medium and long term.
"I'm organizing my
life", I thought. I didn't know that while I "closed" the daily
itineraries of each backpack, researching and writing down on paper in detail
where I should be and at what time, I was closing my eyes to the landscapes and
possibilities of the way. Well, on my last backpacking, instigated by the
desire to let go, and because no time even to think, sleep or eat, I do not
like to plan my travel itineraries. I was forced by circumstances to accept the
surprises and unexpected on the path.
The first feeling that comes when we can
not make our beloved (and sometimes obsessive) plans is fear. The fear of
getting lost, wasting time, not to enjoy the moments, losing the best scenery
and not meet incredible people. I didn't know the plans could, on occasion, be
exactly what prevents you from doing all this. Determined to fight with this
fear, I presented myself with a day of freedom in every city I went. Upon arriving
at each place, rather than researching what had to see and do, I just walked
for hours without having the right destination. Or rather, fate was dictated by
my intuition and feet.
I got to walk 9 am to 9 pm, not knowing where he was
going. I just walked and looked. Watched the people, the city, details, life.
The smells were unique, the sensations were indescribable. See the fear
dissipate and give way to the feeling of freedom and surrender to that moment,
that place, to that path, that life, it was as if I finally began to see not
only the world, but to myself. And many times I lost myself to find me.
Allow
yourself to dialogue directly with the path, trusting that the road, not just
the map, will show you the best landscapes. Trust that there is a major force who
directs our journey through this life, showing us that if we spend the whole
trip with our eyes fixed on paper plans and roadmaps, we will lose the beauty
and opportunities that the road holds.